Vazios Invisíveis: pesquisa aborda soluções para o déficit habitacional e vira tema de série do Jornal Minas
A moradia é um direito garantido na Constituição Federal. No entanto, a realidade é outra para mais de 280 mil pessoas no Brasil. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2022, a população em situação de rua cresceu 38% no país entre 2019 e 2022.
Ao mesmo tempo, grandes centros urbanos contam com um outro problema: o alto índice de imóveis desocupados. Esses “vazios invisíveis”, que podem ajudar a solucionar o problema habitacional, foram tema da série do Jornal Minas.
Uma das referências da série é pesquisa da arquiteta Ada Penna, que revelou uma série de imóveis abandonados no centro de Belo Horizonte. Para realizar esse mapeamento a pesquisadora usou como indicativo os relógios de energia dos prédios.
Com o apoio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), foi possível descobrir os imóveis que aparentemente não estavam sendo utilizados. O método foi chamado de “Método de Identificação da Vacância Imobiliária por Consumo Zero” (MIVICZ).
…é uma grande incoerência. A gente ter um centro da cidade, que é a região mais bem abastecida de infraestrutura e estar completamente esvaziado e abandonado
Ada Penna – arquiteta e pesquisadora
A possibilidade de ocupação dos imóveis abandonados ofereceria uma saída diferente daquela que é tradicionalmente usada no Brasil. Os projetos habitacionais populares costumam deslocar as famílias para bairros afastados onde o acesso ao comércio e transporte, por exemplo, é pior.
“Ele [o trabalho da arquiteta Ada Penna] otimiza os nossos esforços, da administração pública, de ir a campo, fazer verificações. Ele lança alertas sobre determinados territórios”, afirma Gisela Lobato, Diretora de Gestão e Política Urbana da Prefeitura de Belo Horizonte.
Retrofit
O termo significa restaurar prédios antigos mas preservando a arquitetura original seguindo as lei municipais. A capital mineira já teve algumas experiências com esse modelo, como o famoso Edifício Tupis, conhecido como “balança mas não cai”.
No entanto, o empresário Teodomiro Diniz, responsável pela obra do Tupis e um dos pioneiros nesse mercado, alerta que não basta recuperar os prédios e esquecer do entorno. É preciso pensar em outras áreas de políticas públicas como a de segurança. “O retrofit é uma consequência de outras políticas”, afirma Diniz.
Na visão do vereador Gabriel Azevedo, é papel do setor público facilitar as operações de recuperação por parte do poder privado. Entre as ações estão a diminuição da burocracia e medidas que tornem financeiramente viáveis tais empreendimentos.
PLANO DIRETOR
As cidades são organismos “vivos” que estão em constante movimento, criando novas necessidades e encerrando outras. Para saber “para onde ir” é necessário planejar.
O Plano Diretor de Belo Horizonte é o instrumento utilizado para nortear a política urbana. Uma das diretrizes é relacionada às condições dos prédios. O documento busca, entre outros objetivos, impedir a continuidade de imóveis não utilizados ou subutilizados. A ideia é construir menos prédios na região central, e (re)aproveitar mais a estrutura existente.
Para o comerciante Mauro Costa da avenida Paraná, prédios e lojas desocupados geram insegurança e desvalorizam o comércio. “Nós, comerciantes, precisamos do público que mora aqui no centro”, afirma.
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