Temporada “Ô de casa”, do Conversações, mistura literatura com hospitalidade mineira

Abraços, goles de café e muitas conversas. Na entrada das casas, em cada cantinho, na mesa posta… a temporada “Ô de casa”, do Conversações, misturou hospitalidade mineira com literatura para todos os gostos.

Ao longo dos 13 episódios, o apresentador Cláudio Henrique visitou autores e autoras da região metropolitana de Belo Horizonte. De bairros tradicionais da capital mineira, como o Santo Antônio, à Moeda, passando pelo Paraíso (das Piabas), em Ribeirão das Neves, Contagem, Santa Luzia e Nova Lima.

Marilda Castanha e Nelson Cruz

O encontro do texto e as ilustrações foi destaque da conversa com Marilda Castanha e Nelson Cruz. O casal, vencedor de prêmios nacionais e internacionais, falou sobre criação literária, família, paixão pelo desenho. Obras que marcaram a carreira dos artistas, como “A quatro mãos” (Companhia das letrinhas), “Bárbara” (editora Positivo), “Sagatrissuinorana” (Ozé editora) e “O dia em que todos disseram não” (Boitatá editora), foram assunto do episódio.

A ilustração também foi parte do programa com o muralista e professor Binho Barreto. Binho falou das suas preferências literárias e sobre a abordagem de temas complexos do cotidiano. Em seu livro “Perímetro Urbano“, da editora Impressões de Minas, o autor traz parte das histórias e vivências nas ruas e espaços públicos, sobretudo, de Belo Horizonte, cidade onde mora e na qual é conhecido pelo envolvimento com a arte urbana.

mergulho encena

O grafite tem essa coisa da troca com a cidade porque você está no espaço público, mas tem uma coisa de uma amizade. É quase como ir tomar uma cerveja com um amigo ou jogar um futebol.

Binho Barreto, escritor, professor e muralista

A arte urbana, com cartazes e lambe-lambes, marcam as paredes do apartamento do escritor João Perdigão, que também é pesquisador, jornalista e produtor cultural independente. Na conversa com João, um dos assuntos foi a revista independente “A Zica“ que convida artistas diferentes para abordar três temas específicos, a cada edição. Em outra obra destacada no programa, “O Rei da Roleta – a incrível história de Joaquim Rolla“, João conta a trajetória do seu tio-bisavô, que foi empreendedor e dono de cassinos famosos no Brasil.

João Perdigão

A inspiração no cotidiano

Já para a artista visual e escritora Camila Dió, a inspiração está em tudo, seja algo do tamanho de um grão a um acontecimento grandioso. A sua vivência como pesquisadora do IBGE a colocou em contato com pessoas, realidades e histórias de todos os tipos. Essas inspirações podem ser lidas nas suas obras “Não escrevo poemas de amor” e “Quando versos gotejo”, lançadas de forma independente.

Camila Dió

Da mesma forma, o prazer em escutar histórias pessoais e cotidianas movem o escritor e jornalista Louraidan Larsen. O seu primeiro livro, “Escafandrista” é um mergulho em relatos e encontros que marcam o dia a dia na cidade. A obra é um desdobramento de um projeto on-line que leva o mesmo nome e conquistou grande repercussão. Entre as leitoras ilustres estava a cartunista Larte, que aceitou o convite de Louraidan para assinar o prefácio do livro.

Louraidan Larsen

Música e literatura

Histórias e poemas populares são uma das marcas da literatura de cordel. Grande apreciador do gênero, o escritor Olegário Alfredo deixou a sua marca na temporada do Conversações. Além do talento para a escrita, o programa falou também sobre a relação de Olegário com a capoeira e com a música. Mestre Gaio, como é conhecido, encontrou também na rabeca uma forma de expressar a sua arte.

Louraidan Larsen

A música é um dos amores da escritora Laura Cohen Rabelo que reflete nos enredos e personagens do seu livro “Caruncho“, editado pela Impressões de Minas. Na obra, Laura aborda temas como decomposição e a passagem do tempo. Outros destaques da conversa são a relação da autora com o bairro em que vive, o Santa Tereza, onde ela frequentava e brincava na infância, além da presença da mulher na literatura.

Laura Cohen

Eu senti que se fala pouco na literatura [sobre] essa relação em ambientes institucionais… o corpo de mulher nesses ambientes institucionais. O que prevalece são os corpos masculinos e brancos.

Laura Cohen, escritora

A geografia urbana também está presente na vida e nas páginas dos livros da escritora e professora Eliane Marta. Um dos seus livros, “Santo Antônio”, da coleção “BH. A Cidade de Cada Um“, recupera memórias do bairro onde mora até hoje. No episódio, enquanto a autora serve um delicioso chá e experimenta uma geleia especial, entra em pauta também o seu recente livro “Cartas – Constança Guimarães (1871-1888)”, lançado pela editora Quixote +Do. A obra traz trocas de correspondências entre a jovem Constança, filha do escritor Bernardo Guimarães e de Teresa Maria Gomes Lima, e as primas que, à época, mudaram-se para o Rio de Janeiro.

Eliane Marta

Do mesmo jeito, a observação de um mundo em plena transformação foi questão no bate-papo com Gláucia Cota. Em seu livro “Com a palavra, Carlos: figuração da técnica na poesia drummondiana”, a professora, pesquisadora e escritora fala da visão do poeta itabirano sobre um mundo moderno em transição, dominado pelas tecnologias. A conversa flui em uma mesa farta, em uma casa-refúgio no bairro São Geraldo.

Gláucia Cota

Literatura e ancestralidade

O “intermidiático” Ricardo Aleixo, autor de “Extraquadro”, editado pela Impressões de Minas e finalista do Prêmio Jabuti em 2022, também marcou presença na temporada. O Conversações visitou o ateliê do artista que é uma caixa de ressonâncias marcada por referências artísticas e afetivas, como o poema em homenagem à mãe, Iris. Autor de uma arte múltipla e diversa, o artista transita entre a poesia e a prosa, a filosofia e a antropologia, a história e a música, e a dança e o teatro.

Ricardo Aleixo

A ancestralidade e a relação com o passado para construir o futuro foi assunto da mesa de café com a escritora e jornalista Marcela Maria, autora de “O nome do lobo”, lançado pela editora Letramento. O pensamento decolonial é fundamental para ela para entender e se inspirar nas histórias de ontem e hoje. Outro conceito importante para ela é a localização e a territorialização da literatura: escrever sobre locais aos quais pertence e se arriscar em outros nos quais se sente “estrangeira”.

Marcela Maria

Entre árvores e distante do centro da cidade é o local do episódio do Conversações com a escritora e contadora de histórias Delba Menezes. Em suas páginas, a natureza, principalmente os animais, ganham lugar de destaque em obras como “Os três Pituchicos” e “Contos de Mineiro, Uai, Sô!“, lançados pela Páginas Editora. No episódio, Delba conduz o espectador pela sua casa cheia de referências à natureza e aos seus antepassados.

Delba Menezes

A relação familiar é tema também do trabalho “João Maria Matilde” assim como do episódio que destaca o trabalho da escritora Marcela Dantés. A obra é uma ficção sensível no qual a autora fala sobre loucura, hereditariedade e raízes. No programa, Marcela também levanta questões sobre o que inspira a sua escrita e que leva uma história a ganhar páginas.

“A gente pode construir mundos, a gente pode se colocar no lugar do outro, e deve… mas eu entendo que a literatura só nasce de um lugar interior muito único, muito pessoal.”

Marcela Dantés, escritora

Eliane Marta

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