Soluções para enchentes e problemas de urbanização em Belo Horizonte
Existem soluções para as enchentes? Os prejuízos causados pelas últimas chuvas em Belo Horizonte trouxeram de volta as dúvidas sobre como evitar esses tipos de tragédias. Do ponto de vista urbanístico é preciso rever os modelos de engenharia das cidades, considerando cada vez mais as questões ambientais. A canalização de rios, vista no passado como solução para enchentes em Belo Horizonte, hoje é entendida como um grande equívoco no planejamento urbano. Com as chuvas, os rios se expandem para além dos limites que a cidade tenta impor a eles. Assim, o que se vê é a força da natureza se impondo sobre o concreto.
“Nós estamos querendo que o trânsito flua, mas que as águas se comportem. Estamos fazendo um desafio à natureza, e a natureza, quando desafiada, responde na medida. Então em algum momento ela sai exatamente para ocupar o espaço territorial que é dela.”
Marcus Vinícius Polignano, coordenador do projeto Manuelzão
Problema histórico de urbanização de Belo Horizonte
Em um vídeo promocional feito na década de 60 (veja no vídeo abaixo), a Prefeitura de Belo Horizonte proclamava que a canalização do Córrego do Leitão, na Av. Prudente de Morais, resolveria problemas de enchentes na região. “Hoje o ‘Leitão’ está por baixo dessa nova e ampla avenida, que vai ajudar a resolver nossos problemas de trânsito. Cenas de enchentes você nunca mais verá.”, diz o vídeo narrado por Cid Moreira. O rio Arrudas, principal curso de água que corta Belo Horizonte, tem 15% do leito coberto e mais da metade do seu curso natural foi desviado. Sua canalização começou nos anos 20 e só foi concluída na década de 1990.
Belo Horizonte foi projetada sobre rios. A capital mineira possui 654 km de cursos d’água, dos quais 165 estão revestidos de concreto. Em 2015, vendo essa canalização de rios crescer na capital, o Jornal Minas conversou com a população e o urbanista Alessandro Borsagli, autor do livro “Rios Invisíveis da Metrópole Mineira“. Em 2017, o tema foi novamente discutido no telejornal e as previsões dos especialistas eram bem semelhantes ao que se viu acontecer neste janeiro de 2020 na capital.
“Não adianta fazer paliativo. Nossos desenhos do país já estão cansados disso. Precisaria ter um grupo de profissionais de todas as áreas e disciplinas técnicas, para fazer um trabalho conjunto para resolver tudo isso. É questão de drenagem pluvial, esgoto, mobilidade a educação ambiental. São vários profissionais que têm que atuar nessa área para dar uma resposta.”
Tião Lopes, arquiteto e urbanista
Natureza e urbanização: soluções pelo mundo, conscientização e políticas públicas
Hoje, mundialmente, já se discute o conceito de “cidade esponja“, ou seja, uma cidade permeável à água, que integre a natureza ao planejamento urbano. Exemplos práticos dessa solução já são vistos em Berlim, em um bairro revestido com telhados verdes, ruas com árvores e vegetação e corredores úmidos no subsolo. Na China, 250 cidades respeitam o fluxo natural da chuva por meio do uso do sistema úmido, que mantém a água no seu curso. Pavimentos permeáveis, paredes e prédios verdes são outras soluções aplicadas ao redor do mundo.
O lixo, mesmo não sendo o principal culpado pelas enchentes, é um dos importantes componentes para as inundações nos centros urbanos. Boa parte do rastro das tragédias poderia ser evitado com políticas públicas mais abrangentes e educação ambiental. Em Belo Horizonte, cerca de 2.800 toneladas de resíduos são recolhidos por dia. Se esse montante não for levado ao local correto de descarte, o problema com as enchentes é agravado. Ações que dependem não só do poder público, mas também de cada cidadão.
Ocupação de áreas de risco
A chuva foi atípica nos últimos dias em Minas Gerais. Mesmo assim, todos os anos são presenciadas ocorrências de deslizamentos, inundações e mortes no período chuvoso. Quais as respostas para a continuidade das tragédias no estado? Entre elas, um dilema urbano: as áreas de risco continuam ocupadas nos grandes centros. Hoje, devido às chuvas, centenas de famílias tiveram que deixar suas casas e serem acolhidas em abrigos. Minas Gerais possui a segunda maior população em área de risco do país, com mais de um 1,3 milhão de pessoas vivendo em encostas e beiras de rios. A velocidade da ocupação é maior do que a velocidade com que o poder público consegue atender demandas de moradia e infraestrutura.
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Belo Horizonte era uma cidade linda, principalmente, claro, nas áreas próximas do centro, onde se concentravam o comércio, a diversão e as famílias de classe média/média alta. Se me perguntarem o que me traz mais saudades do passado, eu diria sem pensar: foi a juventude de minha cidade. Agora é uma velha doente que disfarça seus males usando uma espessa e berrante maquiagem.