Alto-Falante comemora 18 anos

Terence Machado

O Alto-Falante atingiu a sua maioridade neste mês de junho: o programa completou 18 anos. Isso mesmo, já são 18 anos dedicados ao rock, ao pop e suas vertentes, e à música independente. Ao longo desse período, configurou-se como uma das principais atrações da Rede Minas no gênero musical e é visto em todo país via TV Brasil. Para comemorar a importante etapa na sua história, o programa resgatou sua trajetória apresentando materiais gravados desde as primeiras exibições, que começaram no ano de 1997.

Quem apaga as velinhas e encerra a série de comemorações pelo aniversário do Alto-Falante é o apresentador Terence Machado, que está à frente do programa desde o início e conta um pouco a história da atração:

Quantos apresentadores trabalharam com você?

Fico morrendo de medo de esquecer alguém, então, perdoem-me os bons caso isso aconteça. Vamos lá. Começamos eu e Guga Barros. Logo em seguida, Adriano Falabella – nossa Enciclopédia do Rock – veio para ficar. Em seguida, Guga Barros (Imagem da Palavra) deu lugar a Sandra Soares. Tivemos Gustavo Ziller, apresentando o quadro Espaço Livre, Robson Brandão, no bloco de notícias. E uma sequência de garotas superpoderosas no Garimpo: Maíra Lemos (hoje, no Globo Esporte), Christiana Bernardes, Luiza Damásio. Com a Luiza Damásio, voltamos a ter duas pessoas apresentando todo o programa. Dividi com ela a apresentação por um tempo, depois com a Thaís Azze e, atualmente, com a Sabrina Damasceno.

Qual foi a matéria ou entrevista mais impactante?

Difícil pensar na mais impactante ou importante. Dá para citar algumas – Mike Patton (vocalista do Faith No More), Bruce Dickinson (vocalista do Iron Maiden), o bluesman Robert Cray, que rendeu um especial inteiro para o programa. Isso falando de entrevistas. Pensando em especiais, o show + entrevista com Jon Spencer Blues Explosion, em uma edição do festival Eletronika, em BH. E as coberturas especiais, nos Estados Unidos e Europa, incluindo entrevista com o Phoenix, tocando em casa, no festival Les Eurockeennes, na França. Teve a entrevista com Allan Jones, editor da Uncut. Ele, sem dúvida, é um dos grandes nomes do jornalismo musical em todo o mundo. Em 2009, mesmo ano em que o entrevistamos, visitamos Abbey Road, em outra matéria especial. Cobrimos os festivais de Benicassim, na Espanha, e Roskilde, na Dinamarca, além do Bonnaroo, nos Estados Unidos. Ah, já ia me esquecendo da nossa primeira viagem internacional para acompanhar a participação da banda mineira Sgt. Peppers, na International Beatle Week, quando o programa tinha apenas um mês de vida, em 1997. Coberturas dos saudosos Free Jazz e Tim Festival, em solo brasileiro, também foram muito importantes para a consolidação do Alto-Falante, assim como encarar mais de 10 anos de estrada cobrindo os principais festivais independentes, no Brasil.

Podemos dizer que o Alto-Falante é um dos programas musicais mais antigos exibidos em TV aberta no Brasil?

Sem sombra de dúvida. Até porque a primeira leva de fios brancos na minha cabeça e na minha barba não me deixariam mentir.

Vocês já lançaram em primeira mão muitos videoclipes, há algum em especial que destaca?

Entre outros de diversos artistas e bandas, lançamos alguns clipes do Pato Fu, em primeira mão. E gosto de falar deles porque, desde o início, foi uma banda que topou várias parcerias com o programa. Lembro da Fernanda e do John que, certa vez, vieram para a TV meio virados, sem dormir direito, voltando de turnê de alguma cidade distante, e jogando cartas para cima (sim, as pessoas mandavam cartas no início) para sortearem os vencedores de uma promoção que tínhamos fechado com a banda e a gravadora. Foi uma banda que nunca nos negou uma entrevista. Nem na fase independente, nem no auge do sucesso. Isso é algo que a gente nunca esquece. Curto quem nunca trocou a humildade e/ou a generosidade por discos de ouro, na parede.

Já pagaram algum “mico”?

Já passamos por situações embaraçosas, não sei se pagamos mico. Certa vez, estávamos credenciados pra uma edição do Free Jazz. Viajamos pra São Paulo e seria nossa primeira cobertura do evento. Chegando lá, a assessora veio com uma desculpa de que acabaram recebendo mais pedidos para o credenciamento do que estavam esperando e disse que não seria possível nos credenciar! E a gente lá, em São Paulo, depois de ter viajado, coisa e tal. Eu não voltaria para casa sem essa cobertura, nem se tivesse atravessado apenas a Avenida Nossa Senhora do Carmo para cobrir algum show no Chevrolet Hall. Desrespeito absurdo, combinado com boa dose de bairrismo, na época. Enquanto ouvíamos a negativa absurda, qualquer fanzine paulista meia boca ia recebendo sua credencial. Bom, nossa equipe acabou credenciada e nunca mais tivemos um pedido de credencial negado por aquela assessoria. Pena que o Sabotage não tinha lançado ainda a ótima “Respeito é pra quem tem”. Teria virado nosso mantra, no festival.

Há algo que gostaria de destacar que não foi perguntado?

O Alto-Falante é o que é e chegou aonde chegou por causa de todas as pessoas que passaram e/ou ainda fazem parte da nossa equipe e o amor de todas elas por música. Em especial pela música pop. E, claro, pelos telespectadores fiéis que fomos arrebanhando. E olha que não somos igreja e nunca prometemos salvação a ninguém! No caso das que ajudaram a construir essa história, na produção, são pessoas que viram no programa a possibilidade para a experimentação em TV, maior do que o mercado ou as emissoras comerciais permitem. E entenderam o quão importante e gratificante é poder dar espaço a centenas de artistas talentosos que sequer são citados pela grande mídia. O Brasil é gigantesco, plural, nossa cultura é rica demais, mas os grandes veículos e o esquema de rádio – que já começou errado, com a distribuição das concessões, respondendo a interesses políticos – insistem em sufocar quase tudo o que é bom. Mais vale requentar o especial Roberto Carlos pela enésima vez ou apadrinhar uma música tosca como trilha do nosso próximo craque da seleção do que tentar abrir o leque para a boa música feita nos quatro cantos do país. Para completar o esquema mesquinho da concentração de renda, só mesmo mantendo um esquema de divulgação do que temos de pior na nossa cultura. Nesses 18 anos de programa, já recebemos várias mensagens de pessoas nos agradecendo e dizendo que o Alto-Falante foi essencial na formação/gosto musical delas. Isso faz valer cada madrugada virada, nas ilhas de edição ou em festivais, cada minuto na redação, escolhendo cada clipe ou pautando a(s) próxima(s) matéria(s).

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